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Do Pecado depois da Justificação
“Por conseguinte, quem crê estar firme, tenha cuidado para não cair.”
1 Coríntios 10.12
Dando continuidade ao nosso estudo, vamos refletir sobre o 12º Artigo de Religião do Metodismo Histórico – Do Pecado depois da Justificação: “Nem todo pecado voluntariamente cometido depois da justificação é pecado contra o Espírito Santo e imperdoável; logo, não se deve negar a possibilidade de arrependimento aos que caem em pecado depois da justificação. Depois de termos recebido o Espírito Santo, é possível apartar-nos da graça recebida e cair em pecado, e pela graça de Deus levantar-nos de novo e emendar nossa vida. Devem, portanto, ser condenados os que digam que não podem mais pecar enquanto aqui vivem, ou que neguem a possibilidade de perdão àqueles que verdadeiramente se arrependam”.
É importante destacar que a Bíblia Sagrada afirma que há somente um pecado que não tem perdão: o pecado contra o Espírito Santo. A Bíblia declara em Marcos 3.29: “Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo jamais terá perdão; é réu de um delito perdurável“. John L. Mackenzie diz que “blasfêmia é uma linguagem abusiva ou depreciativa em relação a Deus e as coisas sagradas. No Código de Santidade, a blasfêmia era punida com a lapidação“. Levítico 24.16 diz: “Quem blasfemar o nome do Senhor, é réu de morte. Toda assembléia o apedrejará. Migrante ou nativo, quem blasfemar o nome do Senhor morrerá”. É um pecado sem perdão que no Antigo Testamento era punido com a morte“.
1 João 1.10 declara: “Se dizermos que não pecamos, fazemos Dele um mentiroso e não conservamos sua mensagem“. Este versículo não apenas fala da possibilidade de pecarmos depois da justificação, mas nos coloca algo mais profundo ainda, ou seja, ele faz um apelo ao ato de reconhecimento do pecado, à sinceridade, à transparência e à busca da confissão de nosso pecado a Jesus Cristo. Pior que o pecado da transgressão é o pecado da falta de transparência, da falta de reconhecimento do erro, pecado da hipocrisia, que é próprio dos sem caráter.
Nós, metodistas, cremos na graça de Deus que nos possibilita buscar o perdão, uma nova chance, o perdão de Jesus Cristo para os nossos pecados. Quem nos criou humanos não foi o diabo, mas Deus. Não ignore esta verdade tentando ser auto-suficiente e hipócrita dizendo que não comete pecado. Sem dúvida, não devemos ser escravos do pecado, pois o escravo vive em absoluta sujeição, é dominado e dependente. Romanos 6.14 declara: “O pecado não terá domínio sobre vós, pois não viveis sob a lei, mas sob a graça”. Uma coisa é pecar como por um acidente de percurso; outra coisa é ser dominado pelo pecado e viver constantemente na prática do pecado.
Não quero decepcioná-lo/a, especialmente se você acredita que há super-crentes, mas, se você for à Bíblia, vai encontrar registrada a história de vários homens e mulheres que foram grandemente usados/as por Deus, mas pecaram, caíram em armadilhas da tentação, da auto-suficiência e da prepotência; pecaram por ser humanos/as e sujeitos/as às paixões e fraquezas humanas. Chega da tolice de acreditar que admitir nossas fraquezas é ser fraco/a. Isto cria uma idéia maligna na vida da comunidade de fé e leva muitas vidas a serem sufocadas pela cobrança, pela acusação, pela frustração e pelo desespero. O resultado disto tem levado muitas vidas à esquizofrenia, à depressão e ao suicídio. Já reparou o número de pessoas que estão nestas circunstâncias, ligadas às igrejas evangélicas ou dentro delas? _Pode parecer um absurdo, mas é uma verdade que, não somente temos que admitir, mas tratar, em nosso meio.
Nós, metodistas, cremos no perdão de Jesus Cristo que alcança o mais vil pecador ou pecadora. Este perdão alcançou prostitutas, adúlteros/as, corruptos/as, impostores/as e tantos outros seres humanos doentes no mundo bíblico e em nossos dias atuais; aliás, não poderia deixar de testemunhar que também me alcançou na vida dos vícios, alcoolismo e mentiras. Espero que você não se escandalize, mas o bispo veio desta origem. Porém, a graça de Deus me alcançou e seu perdão me traz vida, paz, esperança e amor a cada manhã, pela renovação das suas misericórdias.
O Rev. John Wesley nos dá o seguinte conselho para buscarmos o perdão e a misericórdia de Deus em nossa vida, quando nos diz: “Pela fé e pela oração, fortaleça as mãos frouxas e firme os joelhos vacilantes. Você ora e jejua? Importune o trono da graça e seja persistente em oração. Só assim receberá a misericórdia de Deus“. Pecado entristece o coração de Deus; Deus fica triste quando pecamos, portanto, não podemos ser “cara de pau” e achar que pecado não entristece a Deus. Nossa posição deve ser de buscar o perdão, a graça, a misericórdia de Deus sobre a nossa vida.
Veja o conselho de 1 João 1.9: “Se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e lavar-nos de todo delito“.
É importante também lembrar que quando falamos em pecado logo nos vem à mente tudo quanto é tipo de promiscuidade, impurezas e podridão. Nosso conceito de pecado é bem preconceituoso, carregado de discriminações, de acusações baseadas na aparência, naquilo que os olhos vêem. Quando agimos desta maneira estamos perdendo a noção mais profunda sobre pecado, pois estamos ignorando que também pecamos quando não praticamos a justiça, quando não fazemos o bem, quando ignoramos o outro. A Bíblia declara em Tiago 4.17: “Quem sabe fazer o bem e não o faz pratica o pecado”.
O Rev. John Wesley afirmava nas Regras Gerais que um/a metodista deveria:
1º – Não praticar mal algum;
2º – Fazer todo o bem possível;
3º – Observar todos os preceitos de Deus relativos ao culto a Ele devido.
Podemos notar que, para um metodista, não basta o desviar-se do mal, o não praticar o mal, mas é importante fazer todo o bem possível, fazer o bem com zelo. Há muitas pessoas que não vivem uma vida de adultério, mas não fazem nada para ajudar na libertação e evangelização dos adúlteros; não são viciadas em bebidas alcoólicas, mas não participam da missão junto aos alcoólatras; não têm uma vida promíscua, mas também não têm uma mente sadia; não estão nas impurezas, mas não buscam a perfeição cristã; enfim, não basta fazer apenas uma coisa e ignorar a outra. Para nós, metodistas, a vida cristã é integral e expressa uma santidade comprometida com Deus, com o próximo, com a missão, com a vida.
É muito triste quando observamos alguns “metodistas” que ignoram estes princípios e, na hipocrisia, ainda insistem em dizer que são metodistas, mas, por “debaixo do pano”, na clandestinidade, estão se afundando nas bebidas, mentiras, noitadas e tantas outras práticas socialmente aceitas, mas repugnantes para a Palavra de Deus e para a tradição que o Rev. John Wesley nos deixou. Combato mesmo estas práticas hipócritas, pois a marca do metodismo foi lutar contra os vícios que destroem a imagem de Deus no ser humano, contra a mentalidade falsa, a religiosidade da aparência e não do coração. É brincadeira, pois muitos/as destes/as ainda vêm me dizer que são metodistas. “Sai fora, vai buscar a sua turma, sai espírito de engano”. Isto é o pecado da falta de vergonha na cara, de humildade de buscar ajuda e reconhecer que isto é falta da verdadeira conversão a Jesus Cristo.
Não entenda a possibilidade de pecar depois da justificação, como festival de pecados. Devemos buscar constantemente a vida de santidade. Devemos tratar o pecado com seriedade, com transparência e sem preconceitos, mas tendo sempre como alvo o concerto, uma nova chance. Porém, na visão do Rev. John Wesley isto não consistia em ficar sempre na mesma, pois ele combateu duramente as pessoas acomodadas ao pecado e que não queriam mudar; essas pessoas eram excluídas das Sociedades e Classes Wesleyanas.
Termino com as palavras do Apóstolo Paulo em Efésios 2.1: “Ele nos deu vida, estando nós mortos nos nossos delitos e pecados”. É este o Deus que servimos, um Deus que, em Jesus Cristo, nos leva a viver uma santidade que se expressa não pela auto-suficiência, mas pelo reconhecimento de que somos seres humanos e dependemos totalmente d?Ele. É esta dependência que nos possibilita o perdão e a oportunidade de uma nova vida.
Orando para que o perdão de Jesus Cristo venha sobre nós e quebre todas as barreiras e preconceitos, levando-nos à cura das feridas emocionais e espirituais para que, na sanidade da santidade, possamos crer no projeto de Deus para cada um/a de nós: uma nova vida em Jesus Cristo.
Do seu pastor e bispo, no amor do Senhor.
Revmo. Bispo Roberto Alves de Souza
Bibliografia:
1. ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia Sagrada. Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri: 1996.
2. SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Paulus, São Paulo: 2002.
3. Colégio Episcopal da Igreja Metodista. Cânones da Igreja Metodista 2007, Cedro, São Paulo: 2007.
4. CHAVES, Odilon. Nossa Fé, Nossas Doutrinas. W4ENDOnet Comunicação, 3ª edição, São Paulo: 1999.
5. MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. Paulinas, São Paulo: 1983.
6. FERNANDES, Francisco; LUFT, Celso Pedro; GUIMARÃES, F. Marques. Dicionário Brasileiro Globo. 56ª edição, Globo, São Paulo: s.d.